4 de jul. de 2010

A BANDA TROPICALISTA DO DUPRAT (1968)




O primeiro álbum solo do maestro tropicalista Rogério Duprat condensa em 12 faixas o espírito panfletário do movimento tropicalista e uma boa dose de galhofa. O material traz releituras (digamos, carnavalescas) de célebres composições que vão de Tom e Vinícius a Lennon e McCartney, misturando canções internacionais que fizeram sucesso nesta década com músicas brasileiras dos mais variados estilos. A noção antropofágica pregada pelos integrantes do tropicalismo é certamente bem aproveitada neste álbum que não só abrasileira músicas de outras nações como fazem soar como composições originais do próprio Duprat, canções que foram escritas por outros ídolos tupiniquins.

Rogéria Duprat, ou o rapaz intelectual que segura o penico na capa de "Tropicália ou Panis et Circenses", já arranjou canções de Gilberto Gil, Caetano Veloso, os Mutantes, Gal Costa, Nara Leão e Alceu Valença, entre outros. A orquestração em clássicos do gênero como "Construção" e "Deus lhe pague", de Chico Buarque, e "Domingo no Parque", de Gilberto Gil apresentado no Festival de MPB da TV Record em 1967, trazem a assinatura do maestro. Duprat também enveredou pelo universo da trilha sonora nos filmes "A Ilha" (1962) e "Noite Vazia" (1964), de Walter Hugo Khouri, e é justamente esse caldeirão de influências que se encontram no álbum "A banda tropicalista do Duprat."

Vindo de formação erudita, a incursão do maestro pela sonoridade tropicalista é uma espécie de libertação. Cansado de compor obras que seriam destinadas a uma pequena elite consumidora, Duprat investe aqui em uma fusão de estilos que perpassam, com bom humor, por toda sua trajetória musical. "A banda tropicalista do Duprat" é um álbum que não hesita em mudar radicalmente de gênero da faixa 3 para 4, por exemplo, onde vai da marchinha de carnaval ao rock quase progressivo dos Beatles na canção "Flying", do psicodélico disco de 67, "Magical Mistery Tour".

A maestria assumida por Duprat, inclusive no próprio título do álbum, é aparente ao longo das faixas. Duprat comanda a trupe dos Mutantes, que fazem participação especial, em faixas como o medley de marchinhas de carnaval de Lamartine Babo ("Canção para Inglês Ver/Chiquita Bacana") e a canção humorística, "Cinderella Rockefella", lançada pelo duo israelense Esther e Abi Ofarim. Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee também contribuem em "Lady Madonna", mais uma dos Beatles, mas o ponto álbum do disco vai para a releitura bucólica de "The rain, the park and other things", da one-hit-wonder (ou banda de um sucesso só) The Cowsills.

Há certamente neste álbum um movimento em direção ao chiste. A releitura da mais que clássica "Chega de Saudade" não é desinteressada. O arranjo soa quase irônico e um dos hinos da bossa nova ganha uma levada meio baião, meio rock, rodeada de efeitos sonoros engraçadinhos. Ainda, "Quem Será", bolero de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, vai de um início reflexivo e soturno a uma verdadeira gandaia de carnaval com direito a som de platéia. A própria marcinha "Canção pra inglês ver", originalmente uma crítica aos estrangeirismos trazidos pelo cinema falado, serve como uma luva neste disco pra lá de debochado.

Não há dúvidas de que "A banda tropicalista do Duprat" é um álbum dedicado aos hits. Dizem as más línguas de que o maestro, insatisfeito com algumas imposições da gravadora, decidiu chutar o balde e gravar, sim, todos os sucessos "sugeridos" pelos engravatados, mas de seu modo. O resultado é bem condizente à própria figura do Duprat: inserido, porém nunca resignado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo!!!!!